sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O amadurecimento do cinema

Ai vai uma homenagem ao meu amigo cafu: meu sarara!
São talentosos, intelingentes e tão humanos:
Do cinema mudo até os dias atuais, um balanço da história dos negros brasileiros e sua presença em nossa cinematografia

Por Roberto Guerra
O cinema brasileiro conta com um elenco soberbo de atores. Desde os primórdios de nossa cinematografia até os dias de hoje, astros e estrelas deixaram seus nomes gravados na "calçada da fama" do cinema nacional. Entre eles, diversos atores negros. Nomes como Grande Otelo, Ruth de Souza, Milton Gonçalves, Zezé Motta, Eliezer Gomes e Léa Garcia estão, incontestavelmente, no rol dos mais talentosos do nosso cinema.
Atores, claro, são profissionais da arte dramática independente da cor de sua pele. Um bom ator é um bom ator e pronto, nada importando se é branco, mestiço ou negro, certo? Bem, esta parece ser uma conclusão óbvia e, na verdade, é. O problema reside em outra esfera, muito mais complexa do que a simples avaliação dos dotes artísticos de alguém.

Grande Otelo ao lado de Dyrcinha Batista no filmeFutebol em Família (1938)
Basta analisarmos a história de nosso cinema ao longo dos anos, para que surjam questionamentos sobre a representação do negro nessa forma de arte. Será que nossos artistas negros usufruíram das mesmas condições de trabalho que seus colegas de profissão brancos? Quantos atores negros chegaram a interpretar protagonistas em filmes? Será que eles representaram nas telas a realidade do negro brasileiro ou apenas estereótipos? Como se vê, as coisas não são tão simples como parecem.
Milton Gonçalves em A Rainha Diaba (1974), filme que o elevou ao estrelato

Uma das queixas mais comuns feitas pelos artistas e intelectuais negros é de que não são representados nas telas como personagens individualizados e sim por meio de arquétipos, estereótipos. Tal conclusão tem embasamento, apesar de também ser verdade que o cinema, em geral, sempre preferiu trabalhar com arquétipos, de negros ou não.
No livro O Negro Brasileiro e o Cinema, do jornalista e pesquisador João Carlos Rodrigues, única obra publicada na língua portuguesa sobre o tema, o autor enumera 12 desses arquétipos. Os mais importantes são o Preto Velho, o Mártir, o Nobre Selvagem, o Negro Revoltado, o Negro de Alma Branca, o Crioulo Doido, a Musa Negra, o Negão e a Mulata Boa. Segundo o autor, todos os personagens negros retratados pelo cinema brasileiro se enquadram em uma dessas categorias, muitas vezes, em mais de uma.Tais arquétipos têm estreita ligação com os orixás do candomblé e da umbanda, que foram incorporados ao folclore brasileiro e passaram a permear o imaginário popular. O pesquisador francês Pierre Fatumbi Verger, autor do livro Orixás (1981), diz que as qualidades e os defeitos das divindades afro-brasileiras revelam mais de dez personalidades padronizadas. Esses arquétipos, quase sempre, terminam influenciando a arte e os artistas.

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