sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O cinema mudo nacional

Infelizmente fizeram parte alguns preconceitos raciais no Brasil, ai vai um pedaço da histório deste preconceito no cinema. Não podemos omitir o que por imaturidade de muitos e preconceito ocorram em nosso país!!
A produção cinematográfica brasileira teve início no ano de 1898, quando o italiano Affonso Segretto, de uma navio vindo da Europa, filmou a Baía da Guana'bara e a cidade do Rio de Jnaneiro. Dessa época em que o cinema ainda era mudo, pouca coisa restou. A grande maioria dos filmes foi destruída por incêndios. Mas, para os negros, isso conta muito pouco. O cinema mudo coincide justamente com o período no qual as teorias racistas ganharam força. Na chamada Primeira República, de 1889 a 1930, o racismo e o preconceito se delinearam melhor. É de se esperar, então, que o negro praticamente não encontre espaço nessa época. Em documentários, praticamente não aparecem e, na ficção, quando por acaso são retratados, surgem sempre estereotipados: tipos caricatos, abobalhados e covardes. Para se ter uma idéia, no filme O Thesouro Perdido (1927), de Humberto Mauro, numa das cenas iniciais, o diretor faz uma analogia entre os beiços de um sapo e os lábios de uma criança negra. É interessante notar que, nesse período, também ganhou força o pensamento anti-racista e liberal em defesa dos negros. Uma série de atividades dinâmicas que, todavia, não aparece refletida nos filmes feitos na época. O fato é relevante por ser esse um dos períodos mais prolíficos de nosso cinema. Os noticiários filmados, por exemplo, não registraram os mais influentes e notáveis negros da época, como o deputado baiano Manuel Querino, o flautista Patápio Silva e o romancista Lima Barreto. Na ficção, o negro, além de estereotipado, era relegado à figuração. Só em 1926, no filme A Filha do Advogado, de Jota Soares, um negro aparece como coadjuvante numa trama. Trata-se de Gerôncio, um criado, que pode ser considerado o primeiro personagem negro de nossa cinematografia.
Grande Otelo em Rio Zona Norte (1957),de Nelson Pereira dos Santos

A partir de 1930, com o advento do som, surgido anos antes, o cinema passa a se nacionalizar, adotando uma linguagem própria. Nesse período, de 1930 a 1945, o cinema ainda é muito influenciado pelo teatro, ou seja, muito diálogo e quase nenhum movimento de câmera. Mais uma das peculiaridades do teatro que não foi absorvida pelo cinema era a de usar atores brancos interpretando personagens negros. Era comum, desde o século anterior, brancos se pintarem para interpretar negros nos palcos. Só que o cinema exigia verossimilhança e, portanto, negros interpretando negros. Daí surgiram os primeiros atores profissionais, vindo dos palcos, como Grande Otelo, Pérola Negra e Chocolate. Mas, ao contrário do se pode imaginar, seus personagens não cresceram de importância por causa disso. No filme Favela dos Meus Amores (1935), de Humberto Mauro, os personagens são compositores e sambistas, mas interpretados por brancos ou morenos claros. O negro aparece mais como figurante. Apesar disso, o filme quase foi censurado porque mostrava muito pobre e preto. É que havia, na época, uma preocupação oficial em fingir que o Brasil era habitado majoritariamente por brancos, quase sem negros e mestiços. Essa idéia, por exemplo, levou o Departamento de Propaganda da ditadura Vargas a pressionar e obter o cancelamento do documentário que Orson Welles realizava no Brasil (It's All True), em 1942. O problema é que o genial Welles só se interessou pela cultura afro-brasileira, contrariando as autoridades.
Com a redemocratização, em 1945, o cinema brasileiro ganhou fôlego. O afrouxamento da censura e a suspensão das restrições à importação de negativos fizeram a produção nacional deslanchar. É a época da chanchada, misto de comédia e filme carnavalesco intercalado com números musicais. Umas das características do gênero era a crítica satírica a setores da sociedade, inclusive os negros. No filme O Caçula do Barulho (1949), dirigido por Ricardo Fredda, um comediante branco reluta em seduzir uma criada negra porque a acha parecida com um chimpanzé. Mais politicamente incorreto, impossível. Mas já são nítidos alguns sinais de mudança em relação às décadas anteriores. No filme A Dupla do Barulho (1953), de Carlos Manga, o problema do preconceito racial é explicitado, sem maquiagem. Na história, uma dupla de atores (um negro e um branco) rompem a aparente harmonia quando o negro se julga diminuído em relação ao amigo. Desgostoso, abandona a carreira e se torna alcoólatra. O filme, como toda chanchada, tem um final feliz. Mas o tratamento dado às diferenças sociais é sinal de uma grande evolução.
As chanchadas foram responsáveis também por revelar grandes talentos negros. Um deles foi Cajado Filho, que trabalhou primeiro como cenógrafo e roteirista e, posteriormente, como diretor. Outro grande talento surgido nesse período foi Grande Otelo que, além de um grande comediante, também era um ator dramático de profundidade visceral. Entre o final da década de 50 e início da de 60, estrelou diversas comédias formando dupla com o comediante Oscarito e, depois, com Ankito. Era um grande ator, participando de filmes decisivos para a história do negro no cinema. Produções como Também Somos Irmãos (1949), de José Carlos Burle, e Rio Zona Norte (1957), de Nelson Pereira dos Santos.

Aguinaldo Camargo e Grande Otelo em Também Somos Irmãos (1949), de José Carlos Burle
Antônio Pitanga, Léa Garcia e o compositor Cartola em Ganga Zumba (1964), de Carlos Diegues

O sinal de que as coisas estavam mudando surge também nos filmes de época, que tratavam do período da escravidão. O paternalismo que marcava as produções anteriores dá lugar a produções melhor elaboradas e realistas. O longa Sinhá Moça (1953), de Tom Payne e Osvaldo Sampaio, é premiado em Berlim e Veneza. Por sua interpretação da negra Sabina, Ruth de Souza foi indicada ao Leão de Ouro de Melhor Atriz no Festival de Veneza. Anos depois, já no movimento Cinema Novo, Carlos Diegues filma Ganga Zumba (1964), que reúne grandes atores negros, como Eliezer Gomes, Léa Garcia e Antonio Pitanga. A trama narra a história de um grupo que foge para se reunir no Quilombo de Palmares. Há uma analogia direta às guerrilhas do Terceiro Mundo e à construção de uma nova sociedade. Já Glauber Rocha vai além e, em Barravento (1962), seu primeiro longa, condena os cultos afro-brasileiros por perpetrarem o subdesenvolvimento.

Nenhum comentário: